Gambá: o marsupial que finge de morto e ajuda a limpar o quintal
- João Elias Souza
- 24 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 24 de abr.
Quando alguém fala em gambá, a primeira coisa que vem à mente geralmente é o cheiro. Mas o gambá — também conhecido como sariguê ou timbu — vai muito além disso. Com hábitos noturnos e um jeitão desajeitado, esse animal é um verdadeiro herói da fauna urbana e um dos poucos marsupiais das Américas. Neste post, vamos te mostrar por que o gambá merece mais respeito (e menos preconceito!).

🧬 Marsupial, sim senhor
Ao contrário do que muitos pensam, o gambá não é um roedor, como o rato ou a cutia. Ele pertence à ordem dos marsupiais, os mesmos animais caracterizados por carregar seus filhotes em bolsas abdominais — como os cangurus na Austrália.
Na verdade, o Brasil abriga algumas espécies de gambás do gênero Didelphis, sendo o gambá-de-orelhas-pretas (Didelphis marsupialis) um dos mais comuns. Esses bichinhos são parentes distantes dos gambás norte-americanos (Didelphis virginiana), que são muito parecidos fisicamente, mas habitam regiões mais ao norte, como Estados Unidos e México.
A característica em comum? Todos fingem de mortos quando se sentem ameaçados — uma tática genial para enganar predadores.
😴 A arte de fingir de morto
Uma das defesas mais curiosas do gambá é a tanatose, um comportamento involuntário em que ele entra em estado de “apagão” ao ser encurralado. Ele literalmente se joga no chão, fica imóvel, com o corpo mole, a boca entreaberta e pode até soltar um líquido fétido das glândulas anais. Tudo isso faz com que pareça um animal em decomposição — algo nada apetitoso para predadores como cães, gatos ou raposas.
Esse comportamento também é observado em outros animais, como algumas espécies de cobras e sapos, mas o gambá é um verdadeiro mestre nessa arte dramática.
🦠 Imunidade de herói
Além de se fingir de morto, o gambá brasileiro ainda tem um superpoder: ele é resistente ao veneno de várias cobras peçonhentas, como a jararaca e a cascavel. Isso significa que ele pode se alimentar dessas serpentes sem grandes riscos. Um feito que impressiona até os cientistas!
Essa resistência também é compartilhada com o gambá-americano, que está sendo estudado por sua possível aplicação no desenvolvimento de antídotos.
🌍 Gambás do mundo: parecidos, mas diferentes
É comum confundir o gambá brasileiro com outros animais parecidos, como o cassaco (outro marsupial brasileiro) ou até o cuíca, que também pertence à mesma ordem. Porém, existe uma diferença curiosa entre os gambás do Novo Mundo (como os brasileiros e americanos) e os animais chamados "gambás" em países como Austrália e Nova Zelândia.
Lá, o termo “gambá” (possum, em inglês) se refere a outro tipo de marsupial, da ordem dos Diprotodontia, mais próximos dos cangurus e coalas. Apesar do nome parecido, eles não são parentes próximos dos nossos gambás — o que é um belo exemplo de nomes comuns causando confusão na biologia.
🌿 O faxineiro da natureza (inclusive na sua casa)
Apesar de não serem os animais mais carismáticos aos olhos da maioria, os gambás desempenham um papel ecológico valiosíssimo. Eles se alimentam de frutas, insetos, pequenos roedores, escorpiões e até cobras, ajudando a controlar pragas em ambientes urbanos e rurais.
Ou seja: se você vir um gambá passando pelo seu quintal à noite, não entre em pânico. Ele está só de passagem — fazendo um "bico" de faxineiro ecológico.
🍼 Supermãe marsupial
As fêmeas de gambá podem dar à luz de 8 a 20 filhotes por vez, mas só os primeiros a alcançar os mamilos no interior da bolsa conseguem sobreviver. Lá dentro, eles ficam protegidos por várias semanas até estarem prontos para sair ao mundo — primeiro agarrados às costas da mãe, depois andando sozinhos.
🙌 Respeite o gambá
Mesmo com seu cheiro característico — que, vale dizer, ele só solta em situações de estresse extremo — o gambá é um animal tímido, pacífico e muito mais útil do que parece. Se adaptou à vida urbana não por escolha, mas pela necessidade de sobreviver em um ambiente cada vez mais invadido por humanos.
Então, da próxima vez que cruzar com um gambá no seu quintal, lembre-se: você está diante de um pequeno marsupial brasileiro com uma longa história evolutiva e muitos talentos escondidos.
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